Habilidade de sobra, técnica refinada, qualidade sem limites… É fácil usar adjetivos quando o assunto é Benjamin. Aos 47 anos, o ex-capitão da Seleção Brasileira ‘ainda está para jogo’, se apresentando numa forma física invejável e fala com orgulho sobre sua trajetória vestindo a ‘amarelinha’. Nesse bate-papo pra lá de especial, o baixinho, que marcou mais de 300 gols com a camisa amarelinha (308 no total em 339 partidas oficiais), falou um pouco sobre sua carreira, lembranças e memórias de uma carreira de mais de 20 anos de gols, muitos títulos e alegrias. Confira a primeira parte da entrevista com esse ‘gigante da praia’.
Duas perguntas fáceis para começar: qual foi o gol mais bonito que você marcou pelo Brasil? E qual você considera o mais importante?
Benjamin – Gol mais bonito e importante… Costumo dizer que sempre vivi o momento. Então cada partida, cada torneio, cada gol era o mais bonito, era o mais importante. Tive o privilégio de fazer mais de 300 gols pelo Brasil, então fica até difícil de falar, de escolher um. Mas lembro sempre do primeiro, que foi numa Copa América em Copacabana, com a minha esposa, meu filho, família, amigos… Foi contra o Uruguai e nesse jogo eu marquei três 3 gols. Foi a minha estreia pela Seleção Brasileira. Guardo com carinho por ter sido tão especial a minha estreia com a ‘amarelinha’.
Aos 47 anos, você continua jogando. Que tipo de cuidados são necessários, que tipo de preparação você faz para se manter como atleta nessa idade?
Benjamin – Jogar em alto nível nessa idade eu só tenho que agradecer a Deus. Tenho jogado ainda em um evento ou outro. Tenho que agradecer a minha família, que é o alicerce, e estou sempre cuidando da minha alimentação, do meu sono e fazendo tudo com amor. ‘Tô sempre treinando, tenho feito um trabalho muito bom com o preparador físico três vezes por semana. Fico feliz por poder, nessa idade, estar ainda contribuindo. Hoje estou começando a pensar mais no lado de fora, de estar apoiando, ver o crescimento, podendo passar algo de bom, de produtivo, para uma geração de muito talento que temos nas mãos hoje.
Você faz parte de uma ‘Geração de Ouro’ do esporte e viveu todas as fases do beach soccer. O que mudou nesses 20 e poucos anos na modalidade?
Benjamin – Sou um privilegiado por poder fazer parte de uma ‘Geração de Ouro’ mesmo. Eram pessoas, atletas com muito talento. Ter participado de tantas gerações, ver o crescimento aqui no nosso pais, foi algo maravilhoso. Infelizmente, estamos atrasados, algumas coisas precisam ser revistas, mas estou levando muita fé na nossa CBSB (Confederação de Beach Soccer do Brasil), porque são pessoas que conviveram também nesses 20 anos, e sabem bem o que precisa feito. Podemos ver também e pegar alguns exemplos na Europa, vemos o crescimento e devemos parabenizar o trabalho que está sendo vem sendo feito por lá em termos de organização, comprometimento, investimento, estrutura, categoria de base… Então fico feliz por ver que temos tudo para crescer e espero agora uma nova era para o nosso esporte. Que possamos galgar esse caminho, investindo na base, tendo um calendário, que haja todo o apoio para uma geração muito boa que temos. São mais de 30 jogadores espalhados na Europa… Obra-prima temos, precisamos investir no nosso beach soccer.
Muitos te consideram o jogador mais habilidoso da história da modalidade. Como é isso para você?
Benjamin – Fiz parte de uma geração abençoada. Tudo é fruto de trabalho e dedicação, de humildade, comprometimento e amor. Sempre falei que sou um privilegiado por poder fazer o que eu gosto, entao sempre me dediquei principalmente pela oportunidade, pelo carinho dos torcedores, da imprensa, por saber que somos uma ferramenta… Posso dizer assim, que os que estão do lado de fora estão nos acompanhando, olhando, então sempre procurei dar bons exemplos. Tem o carinho da torcida, dos jogadores em falar sobre isso de ser o mais habilidoso. Isso me motivava cada vez mais para poder corresponder e sempre me deixou muito feliz. Sempre recebi muita confiança da confederação, de patrocinadores, técnicos, jogadores e torcedores, sempre me deram muito carinho. Habilidade é um dom, mas que precisa ser lapidada por muito treino.
Qual a sua avaliação do trabalho feito pela CBSB?
Benjamin – O trabalho feito pela CBSB é um trabalho novo, é uma nova confederação, pessoas que conheço e com quem tenho intimidade. Como falei, estamos depositando crédito, confiando porque realmente o esporte deu uma parada nos últimos anos. Estamos atrasados em relação, principalmente, à Europa. O que esperamos e confiamos é que a CBSB possa planejar, organizar e colocar em prática um trabalho para que a gente volte às conquistas e ao lugar que o Brasil merece estar.
Quais eram os seus sonhos quando começou no beach soccer? Faltou realizar algum?
Benjamin – O sonho era vestir a amarelinha e, gracas a Deus, na modalidade, já comecei pela Seleção Brasileira. Então eu realizei um sonho da noite para o dia. Fiquei muito feliz e, no decorrer dos anos, o sonho também era ver um calendário de clubes, porque o Brasil, celeiro de jogadores, só tinha a Seleção Brasileira. Sempre tive essa preocupação com alguns amigos que tinham condições de fazer parte da Seleção Brasileira, de praticar a modalidade, mas naquele momento era restrito a alguns. Sempre comentei que sonhava em ver um campeonato de clubes, um campeonato nacional, algo como a Libertadores, e hoje esse sonho é real. A gente espera que a CBSB, com as federações e os clubes, que todos possam estar juntos num só objetivo que é o crescimento do esporte. Estarei sempre disposto a contribuir e espero que o atleta possa viver do beach soccer, dar o seu melhor sempre.
Defina o Benjamin…
Benjamin – Definir o Benjamin. Poxa… Benjamin é um cara sonhador, é um abençoado, um privilegiado, alguém de caráter, de conduta, uma pessoa humilde, respeitador, que sempre procurou se dedicar, dar o seu melhor, dentro e fora, respeitando a todos, sabendo até onde poderia ir. Sempre soube o que falar, onde podia chegar, torcendo para que as coisas pudessem acontecer da melhor maneira com muita transparência. ‘Digno é o obreiro do teu salário’, diz a Bíblia, que as coisas possam ser divididas em proporções por merecimento, para que a gente possa dar a nossa contribuição. Cada um fazendo o seu melhor, na sua área, na sua posição. Como um corpo. A mão depende da perna, a perna depende dos braços, que depende do olho, que depende do nariz, da cabeça pensando… Somos um corpo e que possamos estar unidos em prol do crescimento do beach soccer.
Até quando pretende jogar? Ainda ‘está para jogo’?
Benjamin – Eu não sou mais jogador. Já parei. É lógico que, aparecem alguns convites, alguns projetos, e sempre bato nessa tecla de dar a minha contribuição, de poder ajudar. Estou sempre pronto, mas hoje o meu jogo é fora de quadra, poder dar a minha contribuição, desde que seja bom para todo mundo, que seja para somar, num só objetivo, para que as coisas possam tomar um rumo de evolução, de crescimento… Para que venham a aparecer novos talentos.Temos uma nova geração muito boa. Poder fazer parte será maravilhoso, mesmo que seja só ali na torcida, para que o Brasil volte ao lugar de merecimento, por merecimento, e vou estar feliz em ver isso acontecer.