A presença inédita de uma atleta brasileira na equipe campeã da Euro Winners Cup Feminina deste ano evidenciou o grande momento do beach soccer feminino brasileiro. Mas a conquista de Dani Barboza pelo Madrid CFF, da Espanha, começou lá atrás, mais precisamente em 2015, quando as defensoras Noele Bastos e Bárbara Colodetti, foram defender o Catanzaro no Campeonato Italiano daquele ano. Foi a primeira vez que atletas brasileiras atuaram por um time do exterior no beach soccer.
O site da CBSB conversou com Noele Bastos, nossa craque da seleção, e grande líder do Marseille, equipe francesa que ficou em quarto lugar na Euro, e que contou com outras grandes atletas brasileiras no elenco: a goleira Ana B., e as atacantes Adriele e Lorena. Noele falou sobre sua carreira, visão sobre o esporte, nova geração de atletas e expectativa por voltar a ser convocada para a seleção, que irá disputar o Torneio Intercontinental, na Rússia, de 12 a 15 de agosto, uma semana antes da Copa do Mundo masculina. Confira!
SITE CBSB: Como foi jogar pela primeira vez em uma equipe francesa? Sentiu diferença tática e/ou técnica das outras escolas europeias?
NOELE BASTOS: Foi uma experiência nova, acho importante nós atletas abrirmos novos caminhos e deixar esses caminhos abertos. A França era um país que ainda não tinha contratado brasileiras. A quarta colocação na Euro coroou nosso trabalho e da nossa equipe, que é muito jovem e com pouca experiência. Taticamente não tem muito diferença, nosso treinador era muito aberto ao que falávamos pra ele. Éramos quatro brasileiras em quadra e isso facilitou nosso jogo, ora jogávamos no 3×1, ora no 2×2.
SITE: Qual sua análise do desempenho do Marseille no campeonato?
NB: Nosso desempenho foi muito bom, tendo em vista que perdemos para duas equipes muito experientes. Uma é a base da seleção russa e jogam juntas há muito tempo, a outra equipe é a espanhola, que desde de maio estão jogando o campeonato nacional.
SITE: Como foi voltar a jogar na Europa depois de tanto tempo afastada por conta da pandemia?
NB: Foi e está sendo uma felicidade imensa. Esse ano é meu sexto ano na Europa. Treino e planejo meu ano para esta aqui jogando todos os torneios possíveis. Joguei a Euro, já estou na Itália e depois irei para a Polônia.
SITE: Você que é pioneira ao lado da Bárbara Colodetti em atuar no exterior, como vê o momento atual do beach soccer feminino no Brasil nesse quesito? Nomes mais recentes como Lorena e Ana B conquistando seu espaço também… Em 2022 acredita que teremos ainda mais brasileiras na Europa
NB: O mercado na Europa é muito grande, e tem espaço para todas. Eu acredito que não é só vir e jogar beach soccer; é muito mais que isso. Criamos vínculos, fazemos amizades e isso levamos pra vida.
A Lorena hoje é uma atleta que já conquistou seu espaço, que sabe o caminho para chegar aqui (treino, abdicação etc.). A atleta de beach soccer precisa treinar o ano inteiro, precisa sempre estar pronta. A Ana é um nome muito forte na posição dela, é a renovação. Vem crescendo a cada torneio e sendo um nome requisitado nas equipes que precisam contratar goleira. Acredito que ela, junto da Adriele, irá puxar uma geração muito forte do Brasil. Espero que ano após ano mais brasileiras possam vivenciar essa experiência, quanto mais meninas novas vieram, melhor para todo processo do beach soccer feminino no Brasil.
SITE: O quanto vivenciar competições no exterior ajuda as atletas a chegarem na seleção?
NB: A experiência aqui é muito grande, jogamos contra as melhores equipes do mundo e contra as melhores jogadoras. Isso faz com que sempre estejamos preparadas. Uma atleta que consegue vir jogar na Europa joga uma média de 30 jogos na temporada. Isso aumenta o nível técnico e tático.
SITE: Esse ano teremos mais um torneio da seleção feminina, a Copa Intercontinental, com a presença de grandes equipes. Como está a sua expectativa para a convocação? (o técnico Fabrício Santos irá anunciar as convocadas na próxima segunda-feira, dia 26/7)
NB: Estou tranquila, as coisas têm que acontecer naturalmente. Se agora for a hora de voltar à seleção, estarei pronta. Eu treinei e foquei durante a pandemia inteira do jeito que deu, não parei. Estar na próxima convocação foi uma das minhas motivações. Venho jogando nos meus clubes, ajudando a ganhar títulos. Todas as atletas querem defender a seleção e eu não sou diferente.
SITE: Qual recado você deixa para as jovens atletas que praticam o beach soccer no Brasil e que sonham em construir uma carreira de sucesso na modalidade, assim como você?
NB: Nossa modalidade ainda não é profissional, mas temos que agir como profissionais e estarmos sempre prontas. As oportunidades aparecem quando menos esperamos, então é importante nos mantermos treinando em alto rendimento.
Confira a linha do tempo da carreira de Noele Bastos:
2015: primeira ida para a Europa. Disputa do Campeonato italiano, onde foi vice-campeã pelo Catanzaro;
2016: primeira Euro Winners, defendendo o Lady Terracina, da Itália. Depois defendeu o clube no Campeonato Italiano, onde foi campeã;
2017: Euro Winners pelo Astra, da Hungria;
2018: Euro Winners pelo Lady Terracina e depois foi campeã italiana pelo mesmo clube (primeira brasileira bicampeã italiana)
2019: Euro Winners pelo Lady Terracina.
Convocação para primeira seleção brasileira de beach soccer da história.
Disputa dos Jogos Olímpicos de Praia, no Catar – medalha de bronze.
Mundial de Clubes da Turquia, onde foi vice-campeã pelo Grembach, da Polônia
2020: não jogou na Europa por causa da pandemia. A única competição foi no Brasil, onde defendeu o Flamengo na Copa do Brasil e foi campeã;
2021: 4º lugar na Euro Winners Cup com a equipe do Marseille, da França
Disputa do Campeonato Italiano pelo Terracina Feminille
Disputa do Campeonato Polonês pelo Grembach
CRÉDITO DAS FOTOS: DIVULGAÇÃO / BEACH SOCCER WORLD WILD (BSWW)