Mesmo do banco de reservas, Mão é um pilar da seleção brasileira de beach soccer. Pentacampeão de Copas do Mundo Fifa da modalidade, o goleiro hoje foca em passar para os jovens colegas a experiência de seus 44 anos. Muito além da vivência nas quadras de areia, o veterano quer que os companheiros vejam o esporte como uma ferramenta de transformação. E é exemplo: comanda um projeto social com idosos e está na metade da segunda faculdade.
Mão chegou à seleção em 2004 e rapidamente assumiu o posto de titular debaixo das traves. Foi um dos símbolos de uma era de ouro que também contou com nomes como Benjamin e Junior Negão e seguiu longevo no grupo até completar cinco títulos Fifa em 2017, feito único no mundo.
Nos Jogos Sul-americanos de Praia Santa Marta 2023, Mão é o atleta mais velho da delegação. Na seleção, o mais próximo de idade dele é Datinha, quase uma década mais novo. Muito sereno, o goleiro entende que está num momento mais próximo do fim da carreira. E se prepara há anos para uma transição inteligente, responsável e produtiva.
“Mesmo estando ainda atleta eu tenho outras atividades. Tenho duas formações acadêmicas na área de Educação Física. Sou especialista em políticas públicas e em educação física para pessoa especiais, professor de educação física e coordenador na faculdade onde estudei e tenho um projeto social que cuida de 80 idosos, e agora estou caminhando para metade da faculdade de direito. Gosto muito desses desafios, até porque, daqui a pouquinho, o esporte vai passar, e o Mão vai deixar de ser Mão dentro da quadra.”
Nascido e criado em Santo Antônio, bairro de Vitória, capital do Espírito Santo, Mão teve uma infância difícil. Perdeu o pai muito jovem e chegou a morar na rua. Queria jogar nas escolinhas de futsal, mas não tinha dinheiro. Aprendeu na marra lições que moldaram seu caráter e tornaram tão forte sua consciência de classe. Mas dessa época também guarda lembranças mais leves, como a origem do apelido que o tornou conhecido mundo afora.
“Algumas consoantes e vogais eu não conseguia pronunciar em uma palavra por conta de uma falta de dicção na época de criança. E por ter essa dificuldade eu chamava o meu irmão e o chamo até hoje de Mão. Mão é ele, só que o apelido ficou comigo. É um apelido bem original por ser goleiro.”
Do elenco convocado para esta edição dos Jogos Sul-americanos de Praia, todos cresceram e ou se desenvolveram no beach soccer tendo o goleiro como referência. Muito além da técnica e da tática, Mão tenta compartilhar, no dia a dia, uma visão ampla das oportunidades que o esporte pode proporcionar.
“Hoje eu tenho mais passado do que futuro e quero mostrar que eles vão poder conquistar outras coisas como uma faculdade, uma carreira, uma família, algo que vai dar condições de se verem não só como atletas, mas como cidadãos de bem. Fazer do esporte não só uma ferramenta mercadológica, mas de transformação social. E o que eu puder passar das minhas experiencias de vida e esportiva, isso é gratificante. Quero mesmo é deixar esse legado para eles.”