O beach soccer brasileiro é o maior celeiro de craques do esporte no mundo. Sobre isso não há o que discutir. Mas um novo cenário vem se apresentando com a evolução da modalidade em território nacional: a origem desses atletas. As regiões sudeste e nordeste sempre produziram craques para nossa seleção, mas a convocação do técnico Gilberto Costa para as Eliminatórias Sul-Americanas da Copa do Mundo da Rússia revelou jogadores de centros não tão badalados.
Do sul do país apareceram na lista dois nomes, o paranaense da cidade de Matinhos, Edimar Funke, e o gaúcho da cidade de Torres, Gabriel Matos. Ambos já haviam sido lembrados por Gilberto em uma convocação com os destaques da etapa Sul/Sudeste do Brasileirão 2020, antes da pandemia da Covid-19 ser estabelecida. Já da região Centro-Oeste, mais especificamente da cidade de Planaltina-DF, o convocado foi Luis Henrique. Todos os três chamaram atenção da comissão técnica brasileira após o grande desempenho por suas equipes, Rio Branco-PR, São José-RS e Luziânia-DF, respectivamente, na fase de grupos da última edição do Brasileirão.
“Comecei no beach soccer em 2011, quando joguei o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, em Salvador, pela seleção de Brasília. Desde aquele dia me apaixonei pela modalidade, mesmo não sendo uma modalidade forte da minha região”, disse Luis, que vê em sua convocação uma porta aberta para um futuro diferente do esporte na sua cidade.
“É uma porta que se abre, uma oportunidade que não só cabe a mim, mas eu sei que minha maior função aqui é não fechar essa porta; me comportar da melhor forma possível para, no mínimo, mantê-la aberta e, na melhor das hipóteses, alargar mais ainda uma brecha para novas convocações, sendo eu ou outro representante de do Distrito Federal. Agora todos de lá conseguem acreditar que é possível chegar”, ressaltou LH, que tem experiência profissional no futebol de campo e futsal.
Quem também começou na mesma época foi o paranaense Edimar. Nascido em 1992, seus primeiros chutes com a bola na areia com uma visão mais esportiva foram em 2013. Conhecido como “Gordo” na sua cidade, o destaque do beach soccer paranaense, com tipo físico longe de parecer com o apelido, quer aproveitar a sua segunda oportunidade com a seleção.
“Quando recebi a ligação do professor Gilberto eu fiquei muito feliz. Foi uma emoção muito grande. Poder treinar entre os melhores do país vai me dar muita evolução tática, além de aumentar meu conhecimento sobre o jogo. Sem contar o fato de eu poder ser um espelho para muitos que estão começando no beach soccer do Paraná”, disse o jogador destaque da equipe do Spartanos, que fez uma parceria com o Rio Branco no Brasileirão.
Se Luis Henrique e Edimar iniciaram no esporte aos 20 e poucos anos, Gabriel Matos sempre esteve com os pés na areia. Em frente à casa que morava havia uma quadra onde ele jogava diariamente. O tempo passou, a bola se manteve presente em sua vida, o levou para o campo e futebol society, mas o beach soccer nunca deixou de ser praticado. A segunda convocação para a seleção mostra que o jogador está no caminho certo.
“Não esperava (a convocação). Mas, como todo atleta com mentalidade profissional, estava treinando e me preparando justamente para o caso de uma oportunidade como essa aparecer. Estou muito feliz e tranquilo. Estou mais à vontade agora do que na primeira convocação lá no Espírito Santo. Todos me acolheram bem novamente e aquele frio na barriga pela primeira convocação já passou”, relata o destaque do Leões da Praia, time de beach soccer da sua cidade natal, que fez uma parceria com o clube São José para a disputa da competição nacional.
A convocação de jogadores paranaenses, gaúchos e candangos não é inédita na seleção. Mas apenas a segunda em toda a história. Em 2004, Reinaldo Bento representou o Paraná na seleção que jogou um torneio no Uruguai, que ainda contou a Argentina. Já em 2011, foi a vez do gaúcho Burdela fazer parte do elenco que participou do desafio Brasil x Argentina, em Santa Terezinha, no Rio Grande do Sul. No ano seguinte, em 2012, Daniel Medrado representou o Distrito Federal em dois amistosos entre Brasil x Argentina, na inauguração de uma arena de beach soccer, em Águas Claras-DF.